9 de dezembro de 2014 às 9:00
Recentemente, o seriado “The Knick“, exibido pela TV a cabo HBO no Brasil, mostrou partes chocantes da história da medicina. O seriado se baseia em acontecimentos reais e se passa no início do século XX. Acreditem: extrair todos os dentes era procedimento padrão realizado em pacientes diagnosticados com doenças mentais.
O Dr. Henry Cotton ficou conhecido por realizar esse tipo de procedimento quando se tornou diretor médico do Hospital Estadual de Trenton, em Nova Jersey. Cotton foi aluno do renomado médico Dr. Adolf Meyer, professor na Escola de Medicina John Hopkins. Na época, doenças mentais não eram entendidas como hoje e a medicina era basicamente experimental.
Meyers viajou na seguinte ideia: se pacientes com febre alta começam a apresentar sintomas comportamentais como alucinações, é possível que infecções (conceito extremamente novo na medicina da época) sejam a causa dos mais variados problemas mentais. Isso quer dizer que se fosse internado nesta clínica em Nova Jersey com sintomas de alguma doença mental, todos seus dentes seriam arrancados. E não pararia por aí.
Cotton acreditava que os dentes eram focos de infecção que liberavam “toxinas” que podiam envenenar o cérebro levando às doenças mentais. Tudo isso sem a mínima comprovação científica que conhecemos hoje. Puro chute e observação. Se o paciente não melhorasse (como acontecia na maioria das vezes), Cotton prosseguia com remoção das amígdalas, adenóide, baço, cólon, estômago, esperando pela cura da doença. Bacteriologia cirúrgica ou Terapia da Infecção Focal era o nome dado aos procedimentos que removiam órgãos passíveis de causar doença mental por “poluição” do cérebro. Isso tudo antes da descoberta dos antibióticos. A taxa de mortalidade de seus pacientes era altíssima.
O médico era tão fiel às suas convicções que mandou extrair todos os dentes de sua esposa e dos seus dois filhos para evitar que eles tivessem doenças mentais. Parece que cerca de 11.000 dentes foram extraídos pela equipe do Dr. Cotton durante sua permanência como diretor do Hospital, de 1907 a 1930. O próprio médico mandou tirar alguns de seus dentes, quando achou que poderia estar tendo problemas psiquiátricos.