“Deixa estragar, é dente de leite…”
3 de janeiro de 2013 às 8:00
“Deixa estragar, é dente de leite…” – Quantas vezes, nós dentistas, somos obrigados a ouvir esse tipo de comentário de um pai ou de uma mãe?
Os dentes decíduos, popularmente chamados de dentes de leite, formam a primeira dentição dos seres humanos. Eles não vêm à toa! Não são descartáveis. Devemos ter um cuidado todo especial com esses dentes, que devem durar até a chegada dos permanentes. Mas por quê?
1. Criança banguela não mastiga direito: Se a criança perder alguns dentes por culpa da cárie, logo cedo, ela certamente terá problemas nutricionais. Como ela vai mastigar os alimentos?
2. Os dentes de leite são guias dos dentes permanentes: Isto quer dizer que se a criança perde o dente de leite muito antes da hora certa, o dente permanente não vai ter referência para nascer. Os permanentes podem vir “encavalados” e fora de sua posição ideal, causando mordidas cruzadas ou dentes “girados” (os dentistas chamam de girovertidos), por exemplo.
3. A falta de dentes pode afetar o desenvolvimento psicossocial da criança. Com certeza, essa criança será alvo de brincadeiras e piadas dos coleguinhas. O bullying é quase que parte integrante dos seres humanos e você ainda vai entregar seu filho de bandeja para os valentões?
4. Muitas vezes, os pais esperam o dente de leite ser destruído pela cárie e aí procuram o dentista para ele poder “arrancar o caco”. Essa atitude em si já é um problema sério, mas por muitas vezes vi que os pais deixaram um dente permanente cariar, pensando que fosse um de leite! Por volta dos 6 anos de idade, o primeiro molar permanente nasce e não troca por nenhum de leite. Ele vai erupcionar atrás de todos eles.
Pontos de interesse e principais dúvidas dos pais sobre a dentição de leite:
1. A erupção dos dentes não é igual em todas as pessoas. Ela depende de alguns fatores genéticos e ambientais. Geralmente, os dentes de leite nascem mais cedo nas meninas. É esperado que os dentes erupcionem em pares, com pouco tempo diferença, entre lado esquerdo e lado direito da boca.
2. “Meu filho tem os dentinhos separados, doutor”. Calma, mamãe. Isso é bom. Quer dizer que ele tem menos chances de precisar usar um aparelho por falta de espaço na boca. Lembre-se que os dentes permanentes são maiores que os de leite. Se os de leite tem espaços, os permanentes tem maior chance de “caberem” quando chegar a hora.
3. Todos devem ficar de olho na hora da erupção dos molares de leite. Eles são grandes, importantes e aparecem no fundo da boca. Os molares de leite devem durar, em média, até os 9 anos de idade – hora em que serão trocados pelos pré-molares (dente que só existem na versão permanente). Os molares apresentam sulcos, fóssulas e fissuras em sua anatomia oclusal (na face que usamos para mastigar). Essas pequenas reentrâncias são facilmente colonizadas por bactérias cariogênicas, principalmente, no início da erupção. Essa é a hora de procurar um dentista para procedimentos de prevenção.
4. É normal a criança ficar meio inquieta enquanto seus dentes estão erupcionando. Lembre-se que o dente precisa rasgar a gengiva para sair e isso incomoda. Nessa fase, você pode deixar a criança com aqueles mordedores de borracha (verifique se eles são aprovados pelo Inmetro para que não causem alergia nos pequeninos!)
5. Nunca deixe o dente doer para procurar o dentista. Procure o dentista no intuito de prevenção. Se estiver doendo, é bem provável que a criança precise tomar anestesia. Se as crianças choram por causa de uma gotinha que pingam na língua, quando vão tomar vacina, imagina o trauma que pode ser uma anestesia de dentista, por melhor que seja a mão do profissional.
6. Cuide da dieta e da higiene bucal do seu filho ou filha. Lembrem-se, papai e mamãe, vocês são soberanos sobre o que seus filhos comem. Nenhuma criança de 3 anos pega dinheiro da bolsa da mãe e vai até o mercado comprar balas e chicletes. Crianças até 7 ou 8 anos precisam de acompanhamento na hora de escovar os dentes. Torne este momento um hábito alegre