Quase metade dos ataques cardíacos são ‘silenciosos’
18 de maio de 2016 às 8:00
Dores e sensação de aperto no peito, falta de ar, fadiga e náuseas. Esses e outros sintomas em conjunto são fortes indicações de que uma pessoa está sofrendo um infarto. Nestes momentos, é importante procurar ajuda médica o mais rápido possível, e quem sobrevive é aconselhado a adotar hábitos de vida mais saudáveis, como abandonar o cigarro, melhorar a dieta e praticar exercícios. Mas quase metade dos infartos são “silenciosos”, isto é, não provocam sintomas tão agudos e passam desapercebidos. Assim, suas vítimas estão expostas a um maior risco de desenvolver doenças cardíacas e eventualmente morrerem. É o que diz uma nova pesquisa publicada pelo periódico científico “Circulation”, editado pela Associação Americana do Coração.
— As consequências de um ataque cardíaco silencioso são tão ruins quanto as de um ataque cardíaco que é reconhecido quando está acontecendo – alerta Elsayed Soliman, líder do estudo e diretor de cardiologia epidemiológica do Centro Médico batista de Wake Forest, na Carolina do Norte, EUA. — Mas como os pacientes não sabem que o que tiveram um ataque cardíaco silencioso, eles podem não receber o tratamento necessária para prevenir outro no futuro.
Na pesquisa, os cientistas analisaram dados de quase 10 mil pessoas de quatro diferentes comunidades americanas inscritas no fim dos anos 1980 em um estudo para avaliar as causas e consequências da aterosclerose, o progressivo endurecimento e acumulação de placas nas paredes das artérias, que as entopem. De lá para cá, esses voluntários, de ambos os sexos e tanto caucasianos quanto afrodescendentes, passaram por cinco avaliações médicas em que foram submetidos a exames de eletrocardiograma (ECG).
Das pessoas analisadas no estudo, 386 tiveram infartos sintomáticos no período da pesquisa, enquanto 317 sofreram ataques cardíacos silenciosos que só foram diagnosticados graças ao exame de ECG, ou 45% do total de episódios. Além disso, pelos cálculos dos pesquisadores, as vítimas desses infartos silenciosos apresentaram uma chance três vezes maior de morrerem de doenças cardíacas do que os voluntários que não tiveram ataques, além de um risco de morte por qualquer causa 34% superior a eles. Por fim, os ataques silenciosos foram mais comuns nos homens, mas são as mulheres que estatisticamente mais morrem por sua consequência.
— Mulheres com ataques cardíacos silenciosos parecem se dar pior que os homens — comenta Soliman. — Nosso estudo também sugere que os afrodescendentes estão em pior situação que os caucasianos, mas talvez o número de afrodescendentes nele seja muito pequeno para dizer isso com certeza.
Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcus Vinícius Bolívar Malachias ficou surpreso com quão comum são os infartos silenciosos.
— Esta é uma informação nova — avalia. — Frequentemente encontramos o problema em pessoas que vêm para o consultório para um check-up ou exames, mas não tínhamos ideia que o problema era dessa magnitude. Um infarto é sempre um acontecimento muito grave e isso explica porque as pessoas que tiveram infartos silenciosos têm uma mortalidade maior do que as que não tiveram.
Assim, diante do tamanho do problema, Malachias diz que é preciso reforçar a prevenção e a necessidade de fazer check-ups periódicos, única maneira de detectar os infartos silenciosos.
— Corrigir os fatores de risco, principalmente o chamado “quarteto mortal”, hipertensão, colesterol alto, tabagismo e diabetes, e fazer avaliações médicas periódicas são as melhores e únicas maneiras de prevenir estes riscos maiores de morte trazidos pelos infartos silenciosos — afirma.
Recomendação parecida também foi feita por Soliman:
— Os fatores de risco modificáveis são os mesmos para os dois tipos de ataques cardíacos. Os médicos precisam ajudar seus pacientes que tiveram um infarto silencioso a parar de fumar, reduzir seu peso, controlar o colesterol e pressão sanguínea e fazer mais exercícios.
Fonte: O GLOBO