18 de fevereiro de 2016 às 8:00
1 – Dar analgésicos antes da vacina para prevenir reações afeta a ação do imunizante?
Sim. Um estudo publicado na revista científica inglesa The Lancet analisou 459 bebês: metade recebeu doses preventivas de paracetamol e a outra metade, não. No grupo em que o remédio foi administrado, a fabricação de anticorpos foi menos eficiente. Mas há exceções, como a vacina meningocócica B, que provoca reações frequentes e, por isso, o fabricante já previu o uso antecipado de analgésicos e antitérmicos, sem observar prejuízos.
2 – Se a criança tiver febre ou dor, posso dar antitérmico ou analgésico?
Depois que o sintoma se manifestar, não há problema em administrar o remédio, desde que sob orientação do pediatra. O uso desse tipo de medicamento costuma ser liberado quando ocorrem efeitos colaterais das vacinas, sem interferir em sua eficácia.
3 – A vacina perde o efeito se a aplicação da segunda ou da terceira dose atrasar?
O ideal é que não se atrase nem se adiante, mas, se houver imprevisto, a margem de erro considerada razoável é de até duas semanas. Mesmo que haja um atraso maior, porém, a primeira dose não se perde. Basta dar sequência à imunização.
4 – Quais são as reações mais comuns? E as mais graves?
As mais frequentes são dor local, febre, irritabilidade, diarreia e, em alguns casos, lesões na pele. As mais graves são extremamente raras, principalmente hoje em dia, quando quase todas as vacinas são acelulares, ou seja, não contêm o bacilo vivo em sua composição. Mas podem ocorrer. Ao receberem a tríplice, por exemplo, há crianças que ficam pálidas, prostradas e sem reação logo após a vacina. A cena assusta, mas não é grave nem deixa sequelas. No caso das vacinas celulares, ou seja, com o vírus atenuado, há risco de a doença que deveria ser prevenida se desenvolver. Mas isso ocorre em menos de uma por 1 milhão de doses de Sabin (que previne poliomielite), ou excepcionalmente com a vacina da febre amarela. Existe um mito de que o autismo estaria relacionado à vacina tríplice, mas vários estudos derrubaram a hipótese.
5 – É preciso dar a gotinha contra pólio se meu filho já recebeu a Salk, que também protege contra a doença?
Apenas como reforço. Em janeiro deste ano, o Ministério da Saúde fez uma alteração no esquesma de vacinação contra a poliomielite. A terceira dose da vacina, que era dada por via oral, passa a ser injetável. Não há mudanças em relação às datas. As três primeiras doses continuam dadas aos 2, 4 e 6 meses de vida e os reforços por via oral aos 15 meses e 4 anos.
6 – Qual a reação esperada para a BCG?
A BCG é um bacilo vivo, atenuado, e há possibilidade de promover uma reação conhecida como BCGite, que acontece de 30 a 60 dias após a vacinação. Trata-se de uma inflamação no local em que foi injetada a substância, com formação de pus, de onde pode sair a secreção branco-amarelada. Apesar da aparência desagradável, essa reação não gera
nenhum prejuízo para a criança. A BCGite só é grave naquelas que têm algum tipo de imunodeficiência ou são portadoras do vírus HIV. Nesses casos, é melhor não aplicar o imunizante.
7 – A vacinação contra a gripe deve ser adiada se meu filho nunca comeu ovo?
A vacina da gripe, assim como a da febre amarela, contém proteínas do ovo, mas a restrição só vale para quem tem alergia comprovada ao alimento. Se os pais não sabem se o filho é alérgico, o melhor é imunizar, pois são raros os casos de reação grave e, portanto, os benefícios superam os riscos.
8 – É verdade que as vacinas oferecidas no posto de saúde causam mais reações?
Não é verdade. Antigamente, grande parte das vacinas da rede pública era celular e, por isso,
desencadeava mais reações. Atualmente, são acelulares, assim como as da rede privada e, portanto, elas se equivalem.
9 – Qual a diferença entre os imunizantes das clínicas particulares e os dos postos de saúde?
As vacinas são iguais em composição e eficácia – o que muda é a cobertura de algumas delas. É o caso do imunizante contra a bactéria pneumococo: a particular cobre 13 sorotipos, contra dez do posto de saúde. Vale lembrar que, se não for possível pagar pelo composto mais completo, o melhor é aplicar o gratuito, mesmo que ofereça uma proteção um pouco menor.
10 – Posso dar vacina se meu filho estiver resfriado, com febre ou infecção de garganta?
Crianças que estiverem fazendo uso de antibióticos ou medicações à base de corticoide devem finalizar o tratamento antes de se vacinar. A febre também é um obstáculo. Ela não interfere no efeito da vacina, mas poderá gerar confusão sobre sua origem: se está relacionada a uma doença anterior ou à aplicação da substância. Resfriado e dor de garganta não são impeditivos para a aplicação.
Fontes: Jacyr Pasternak, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP); Marcelo Reibscheid, pediatra da UTI Neonatal do Hospital São Luiz (SP); Rosana Richtmann, infectologista e presidente da CCIH do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP).